Hipnose Ericksoniana

Hipnose

Considerado mundialmente como um terapeuta singular, Milton Erickson inspirou Richard Blander e John Grinder na criação da PNL, que surgiu no Estados Unidos na década de 1970, sendo uma fonte importante para o estudo de técnicas importantes da PNL, como espelhamento e rapport. Milton Erickson apresenta um novo olhar sobre o tema hipnose e sobre a própria Psicologia.

No tocante a hipnose, a substituição do transe pelo uso de metáforas e da indução indireta com efeito hipnótico são temas evidenciados na metodologia que leva seu nome. Da hipnose tradicional, em que o cliente ou paciente, dependendo da intensidade do transe, era colocado em estado torpor, pouco restou na hipnose Ericksoniana. O estado hipnótico é alcançado facilmente por meio da habilidade do terapeuta, que se utiliza de certos padrões linguísticos para confundir o cliente, dele extraindo alguns conteúdos internos para criar, a partir desses conteúdos, uma estratégia de mudança do estado atual do paciente para um estado desejado, começando pelo agora.

Na terapia ericksoniana, o sujeito é considerado individualmente, a partir de sua história única, pessoal e intransferível, diferente pelo sujeito objetivado pela ciência de modelo positivista em que se pretende inserir a Psicologia.

Milton Erickson foi uma figura relevante para a Psicologia, para muitos profissionais sua contribuição se deve ao uso da Hipnose, para outros no uso da linguagem, especialmente por meio da sugestão indireta, emprego de metáforas, anedotas, vinculações. Conhecido como o médico hipnotista mais proeminente do mundo, é também consagrado por sua habilidade no uso da terapia estratégica. Zeig (1983, p.21) estabelece uma comparação entre Freud e Erickson, dizendo que não seria “uma hipérbole afirmar que a história demonstrará que o que Freud contribuiu para a teoria da psicanálise, Erickson contribuiu para a prática da psicoterapia, como será reconhecido no futuro”

Erickson é referência para psicoterapeutas de diversos países. Segundo MASSON (1994), Erickson influenciou uma série de notáveis e ecléticos psicoterapeutas como Magaret Mead, Gregory Bateson, Paul Watzlavick, Don Jackson, Jay Haley, John Weakland, Richard Blander e John Grinder. Segundo Zeig (s/d, p.33-34), a genialidade de Erickson revelava-se em quatro áreas: como hipnólogo, como psicoterapeuta, como pessoa e como uma pessoa que transformou suas deficiências físicas em vantagem. Em outra obra, ZEIG (1983) consagra Erickson como “ a maior autoridade em hipnoterapia e em psicoterapia breve estratégica”, “ o maior comunicador”, “ o principal psicoterapeuta do século XX”

Lankton (1990, p.364) afirma que a abordagem ericksoniana é um método de trabalho em que os clientes enfatizam habilidades e talentos comuns, às vezes inconscientes. As metas da terapia são construídas a partir da inteligência e da saúde do indivíduo. Trabalha para destacar as mudanças, e ao reduzir as resistências do cliente, reduz a dependência em relação à terapia, superando a necessidade de insights, permitindo que o cliente receba totalmente os créditos pelas mudanças.

Haley (1991) observa que várias habilidades são desenvolvidas a partir do treinamento com hipnose: a de observar as pessoas e os modos complexos como se comunicam; a de motivá-las e leva-las a seguir instruções; a de ensiná-las a influenciar outrem a partir do uso adequado das próprias palavras, entonações e linguagem corporal. A relação espaço-temporal também pode ser trabalhada durante o transe hipnótico. O aprimoramento de tais habilidades oferece ao hipnotista a possibilidade de eliciar mudanças no quadro fóbico do paciente:

Assim como um hipnotista pode pensar em transformar um sintoma grave num mais brando, ou de curta duração, ele pode pensar em transformar um problema interpessoal em uma vantagem. É mais fácil para uma pessoa hipnoticamente treinada, do que para a maioria dos terapeutas, aprender a ideia de que os sentimentos subjetivos e as percepções se transformam quando há uma mudança na relação. O modo de pensar estratégico é crucial para a abordagem hipnótica quando usado adequadamente.

Por possuir tais habilidades e usá-las com maestria, Erickson é considerado um terapeuta experimental original ao transferir ideias da hipnose para procedimentos terapêuticos nos quais não seria esperado encontra-las. Com o passar do tempo Erickson foi substituindo o transe hipnótico tradicional por outros recursos como indução indireta, o uso de metáforas, o emprego “artístico” de certos padrões de linguagem, além de aprimorar as técnicas de espelhamento e rapport com o cliente.

Os padrões de linguagem hipnótica de Erickson foram reunidos por Richard Bandler e John Grinder, a partir de 1975 (BANDLER; GRINDER, 1975) e sintetizados no chamado Modelo Milton. A partir dessa década, o trabalho terapeuta americano ganhava notoriedade por meio de seguidores como Haley e Zeig, que também apontavam, em seus estudos, traços do discurso ericksoniano, bem como relatos detalhados de seus atendimentos.

Décadas mais tarde, o psicólogo Neubern (2002) defende que a abordagem estratégica de Erickson aponta para profundas transformações em termos epistemológicos, cujos rumos e implicações são imprevisíveis. Ele destaca que, mesmo havendo a possibilidade de retorno ao acontecimento, é possível dele extrair, a partir de um jogo dialético que Erickson estabelece em relação a seu paciente, novos significados que se apresentam como alternativas ao determinismo psicológico e histórico que podem exercer influência sobre a produção de sintomas, sem esgotá-la. Além de na terapia estratégica, várias expressões do sujeito são observadas: não apenas as verbais, como também as não verbais- respiração, expressão facial, postura, dentre outras.O sujeito, assim observado, tem seus próprios cenários valorizados pelo terapeuta, que se volta para o desencadeamento de mudanças a partir dos processos particulares do paciente e não a partir de conteúdos universais e a priori. Essa perspectiva pragmática cria condições para que o sujeito participe efetivamente, em consonância com seus próprios projetos de mudança.

Lankton (s/d) aponta quatro aspecto da terapia estratégica de Erickson que assinalam a diferença entre a epistemologia tradicional e a que chamou de “emergente”, especialmente no que s refere ao uso das sugestões. São eles:

  1. O propósito e uso da sugestão- Erickson utilizou a sugestão como uma ferramenta para alcançar os fins desejados no tratamento de seus clientes (1945) . Ele exemplifica o uso redundante da palavra “durma”, repetindo diversas vezes a frase “ Agora quero que durma mais e mais profundamente”. Já em 1976, afirma, Erickson passa a valorizar a sugestão indireta, deixando a posição de um “expert autoritário” para se colocar frente ao cliente como alguém que “oferecia” ideias e sugestões.
  2. A metáfora como intervenção indireta- Em 1979, Erickson publica com Rossi um artigo em que apresenta formalmente o valor da metáfora como forma de intervenção indireta.
  3. O significado de um sintoma- Em 1954, Erickson afirma que o desenvolvimento dos sintomas neuróticos constitui caráter “defensivo e protetor” de acordo com a concepção analítica tradicional. Em 1966, já vislumbra os sintomas da doença mental como uma “ruptura na comunicação das pessoas” E em 1979, concluiu que tais sintomas eram “formas de comunicação” e “sinais de problemas no desenvolvimento que estão no processo de se tornarem conscientes”.
  4. Aquilo que constitui uma cura- No que se refere à cura, as ideias de Erickson permanecem as mesmas do início ao fim da carreira. Já nos idos de 1948, afirma que a cura não é resultado de uma sugestão, mas um desenvolvimento a partir da ressignificação da experiência.

Segue abaixo um quadro comparativo entre os Paradigmas terapêuticos da Psicologia tradicional e os Paradigmas terapêuticos da Psicologia ericksoniana.

Segundo Milton Erickson, a hipnose é um fenômeno comum em toda vida humana. Qualquer um que possa comunicar-se, pode aprender a usá-la.

Segundo Erickson (ERICKSON; HERSMAN; SECTER; 2003), “ o hipnotismo é tão velho quanto o tempo e provavelmente tenha se originado quando o primeiro homem arrastava-se na lama primitiva.” Há mais de 2000 anos, sacerdotes egípcios e gregos já empregavam a hipnose no tratamento de várias doenças. Os Xamãs induzem os estados de transe utilizando a batida de tambores, bem como danças ritualísticas; no Oriente podemos perceber a ioga obtendo resultados semelhantes mediante exercícios de postura e respiração.

Halley (1991) afirma que a hipnose, tal como vista por Erickson, é “ um processo entre pessoas, uma maneira pela qual uma pessoa se comunica com outra”. Dessa maneira, a abordagem ericksoniana traz à tona o enquadramento interpessoal. Zeig (2003) destaca o modelo autoritário da hipnose tradicional antes do Erickson, dirigida de fora para dentro, em que prevalecia a vontade do hipnotizador, que implantava sugestões diretas num sujeito passivo. “Já o trabalho ericksoniano, parte de dentro para fora e métodos indiretos eram utilizados para despertar forças do cliente ao invés da aplicação de sugestões poderosas dirigids contra um cliente passivo. Erickson formulou conceitos centrais da hipnose moderna” (ZEIG; HERSHMAN; ERICKSON, 2003)

Erickson afirma que o controle do comportamento pode ser obtido por recursos mecânicos, por meio de recompensas, pelo uso da punição, da razão ou da sugestão, sendo esta última a base da hipnose, em parceria com a repetição. Segundo Erickson “ tudo que se aprende num treinamento em hipnose pode ser considerado como modificações, amplificações, variações e explicações desses dois ingredientes básicos” – sugestão + repetição.

Sugestões não precisam, necessariamente, ser de natureza verbal, podendo ocorrer em qualquer nível sensorial, em especial os associados aos cinco sentidos: visão, audição, olfato, tato e paladar. Erickson era capaz de criar sugestões a partir do uso diferenciado de entonações ou de gestos, criando situações para espelhamento e rapport para entrar em sintonia com o cliente e melhor influenciá-lo. As sugestões, conforme explica o próprio Erickson, precisam ser aceitas pelo cliente. Ela deve ser aceita incondicionalmente, não no sentido de algo que se aceita sem qualquer valorização crítica, mas sim no significado de favoravelmente, o que levará à iniciação do comportamento apropriado. Para ser efetiva a sugestão deve ser atuada pelo cliente ou paciente, mesmo não havendo lógica para a sua aceitação comum (SECTER; HERSHMAN; ERICKSON, 2003)

Erickson enfatiza ser a sugestibilidadde algo normal para o ser humano, não devendo ser confundida com traços de idiotice. A sugestibilidade é, pois, a aceitação não-crítica de uma ideia à qual a pessoa responde utilizando, implicitamente, todo seu entendimento crítico e associativo, sem abrir mão em nenhum momento de sua inteligência. O transe hipnótico não implica renúncia da vontade, prevalece nesse estado dual a cooperação entre paciente e terapeuta. Para tanto, é necessário que se estabeleça um contrato de confiança entre ambos, pois o transe hipnótico é um estado de consciência diferenciado; como destaca Erickson: “ o primiero sinal do transe hipnótico é a capacidade da pessoa de limitar sua maneira de pensar e sentir para sua vida conceitual, para imagens de memória, imagens visuais, imagens sensório-auditivas de todo tipo. É com sua vida conceitual, sua vida experimental, que ele tende a relacionar-se mais do que com realidades irrelevantes no seu ambiente comum (SECTER; HERSHMAN; ERICKSON, 2003)

Há transes leves, médios e profundos e estes se manifestam em formas desordenadas, o que pode dificultar a identificação dos mesmos para o hipnólogo aprendiz. Não se pode dizer que um seja superior ao outro: “o único tipo de transe a ser pretendido é aquele que serve aos propósitos de um cliente específico ou sujeito experimental, afirma Erickson (2003, p.53). Por isso não se deve preocupar se a indução de um cliente resultar em transes leves ou médios, pois o aprendiz pode até induzir a um transe profundo sem reconhecê-lo como tal. Da mesma forma Erickson afirma (2003) que após completar a indução, é possível que o aprendiz não saiba o que fazer com o estado de transe induzido: para melhor esclarecer esse dilema, Erickson se vale de uma metáfora – se um homem viaja para um lugar, qualquer que seja o seu destino, isto independe da viagem em si mesma e do que será feito ao alcançar seu destino. A viagem representaria a indução ao transe, o destino, o estado de transe; cabe ao hipnoterapeuta apresentar um roteiro de opções ao cliente, concluída a viagem.

Outra evidência do estado de transe é o estabelecimento de rapport entre o sujeito e o operador, pois trata-se de esforço conjunto em que a atenção de um se dirige ao outro- e assim reciprocamente- motivo pelo qual o cliente tende a desligar temporariamente das situações do ambiente, dos estímulos externos, passando a responder ao operador. Segundo Erickson (2003), desligar-se temporariamente é dar permissão à outra pessoa para que dirija o momento, havendo assim cooperação.

Um fenômeno conhecido da maioria das pessoas e que pode ser relacionado à hipnose: a amnésia, esquecimentos em geral temporários, que causam, por vezes, embaraços na vida real; a hiperamnésia, aumento da capacidade de lembrar; a supressão ou repressão de dados ou fatos; a distorção do tempo- em alguns minutos de transe é possível experimentar a sensação de se escalar uma montanha de 500m, por exemplo; a despersonalização, estado momentâneo de suspensão da própria identidade, como quando se está imerso, assistindo a um filme de ação e/ ou suspense, esquecendo-se das sensações de ambiente, como temperatura da sala ou mesmo as internas, como fome ou sede.

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